Clube do Leitor: Como surgiu a inspiração para criar a série “Ciça e o gato Mardoqueu”? Por que escolheu escrever livros infantis?
Ana Carla Macedo: A culpa toda é da minha sobrinha. Eu curti muito a ideia de ser tia e ela é uma pimentinha, uma sapeca. Eu resolvi tentar desenhá-la. Fiz um curso de desenho, estilo cartoon, pela internet. Bem, ela é apenas inspiração, a vida da personagem não tem nada a ver com a minha sobrinha. Mas foi porque ela tinha vontade de ter um gato que eu olhei para uma foto de gato na internet e desenhei o gato Mardoqueu. Quando eu tive os personagens, comecei a escrever. Então, inspirada no meu irmão e em um colega da sua infância, eu criei o Pablo. Descobri que quando os personagens têm carinha, fica mais fácil de criar suas historinhas. Então, para o primeiro episódio, eu escolhi a tromba d’água, inspirada na aparição de uma na Baía do Guajará.
Clube do Leitor: Quais mensagens ou valores você procura transmitir por meio das histórias de Ciça e Mardoqueu?
Ana Carla Macedo: A solidariedade, o cuidado com o meio ambiente, a busca de solução para problemas, geralmente, para ajudar os outros, mas, principalmente, apresentar a leitura como algo lúdico.
Clube do Leitor : Qual é a importância de abordar temas relacionados à natureza e ao meio ambiente em seus livros?
Ana Carla Macedo: Eu vivo em uma cidade no meio da floresta Amazônica. Eu gosto de falar sobre o assunto para crianças. Elas precisam saber que não existe apenas a tela do celular, mas um mundo enorme a desvendar com uma grande biodiversidade. Além disso, trombas d’água e biodiversidade não precisam ser temas apenas de livros de ciência, mas de historinhas para crianças também.
Sobre o livro “Ciça e o gato Mardoqueu: O dia em que o Museu parou”:
Clube do Leitor: Qual foi a sua motivação para criar uma história que se passa em um museu?
Ana Carla Macedo: O Museu Emílio Goeldi tem exposições, mas tem também um parque zoobotânico. Eu ia muito lá, quando era criança. Alguns bichinhos ficam soltos e as crianças acabam alimentando-os com os seus lanches inadequados. Apesar de que eu já vi macaquinhos de cheiro roubarem bolachas das mãos de crianças. Bem, mas existem placas pedindo para os visitantes não alimentarem os animais, por isso, resolvi criar uma história com esta moral: não se deve alimentar os animais do Parque.
Clube do Leitor: Como você abordou a importância da preservação e valorização da cultura e história nesse livro?
Ana Carla Macedo: O Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi faz parte da nossa cultura, um espaço de pesquisa e visitação, jamais deve ser fechado. Muito menos aos domingos, quando a criançada vai visitá-lo. É um espaço que sempre a criança deve ter em mente o seu valor para a sociedade e fazer qualquer coisa para ele se manter aberto, não importando quem está no governo.
Sobre o livro “Ciça e o gato Mardoqueu: Tromba d’água na Amazônia”:
Clube do Leitor: Por que escolheu usar a Amazônia como cenário para essa história?
Ana Carla Macedo: É a Amazônia onde eu cresci e vivo. Há muitas belezas próximas daqui de Belém que são cenários inspiradores para escrever muitas histórias.
Clube do Leitor: Como a personagem Ciça se sente e reage diante de uma situação de desastre natural como uma tromba d’água? Como você aborda o medo e a superação nesse contexto?
Ana Carla Macedo: As pessoas falam: uma tromba d’água? Não é um fenômeno aterrorizante para um livro infantil? É, assim como o ciclone do mágico de Oz ou o buraco minhoca de Alice no País das Maravilhas. Ciça nem se dá conta do fenômeno natural, a única coisa que ela quer é salvar o seu gato. Ciça é tão sapequinha que não tem medo. O medo é expressado pelo seu amiguinho Pablo, que tem os pés no chão. Além da tromba d’água, há uma figura folclórica: o Mapinguari. O Mapinguari é um monstro muito mau, que tem a boca no estômago e um olho na testa. No livro, ele tem a forma de uma preguiça e é tão mau quanto a bruxa de Joãozinho e Maria.
Clube do Leitor: Como você trabalhou a importância da empatia e da colaboração entre diferentes culturas nesse livro?
Ana Carla Macedo: A criança perceberá a biodiversidade de cada lugar. Assim, o livro que tem como cenário a Amazônia, apresenta gaviões, urubus, enquanto nas ilhas Marquesas Keys vemos pássaros colhereiros, garças azuis e outros. Apesar do idioma diferente, eles vão ter de armar um plano de salvação para as borboletas azuis de Miami e envolver os seres que vivem naquele lugar, afinal, a responsabilidade de evitar a extinção de uma espécie deve ser compartilhada por todos.
Geral:
Clube do Leitor: Como você acredita que a literatura infantil pode contribuir para a formação das crianças e a conscientização sobre questões importantes como o meio ambiente e a cultura?
Ana Carla Macedo: Com livros que as façam pensar para solucionar problemas, que as coloquem em contato com comidas típicas, costumes, folclore e biodiversidade do cenário da história. É como ensinar Matemática ou Ciências dentro de um contexto e com uma pitada de bom humor.
Clube do Leitor: Quais são as suas expectativas em relação aos leitores dos livros da série “Ciça e o gato Mardoqueu”?
Ana Carla Macedo: Primeiro, que eles adquiram o hábito da leitura. É o que tem acontecido. Algumas pessoas me disseram que, após lerem os episódios, as suas crianças ficaram mais interessadas em livros. Segundo, que se apaixonem pelo gato Mardoqueu e a Ciça. Terceiro, que se divirtam e aprendam a gostar de poesia.
Clube do Leitor: Quais são os próximos projetos ou livros que podemos esperar da autora?
Ana Carla Macedo: Eu já tenho em mente mais 8 episódios de Ciça e o gato Mardoqueu em diferentes cenários amazônicos. Tenho dois livros infantis: um pronto e outro por terminar, e outro que fala sobre animais típicos dos céus de Belém, mas que é uma obra para jovens e adultos. Na Amazon, também tem o Ouro dos tolos, que é um livro infantojuvenil que escrevi quando tinha 15 anos. Tenho mais dois livros infantojuvenis, da minha adolescência, que estou revisando para publicar.
Clube do Leitor: Você tem algum recado ou mensagem que gostaria de deixar para as crianças que estão lendo seus livros?
Ana Carla Macedo: Divirtam-se. O livro é uma porta para experimentar novas sensações, viver muitas traquinagens e aprender de forma lúdica.