30/04/2024

O Passeio

Quando todas as lembranças são perdidas, nos resta a saudade e a poesia.

Em minha adolescência, tudo que escrevi foi perdido.
Assim, também na minha infância. Perdido! Porque fui eu quem os perdeu.
Quando os quis perder, porque não conhecia o que em minha vida… em minha vida mudara.

Mudaram todas as linhas.
Não conhecia a poesia, não a conhecia! Nem o verso, não! E, assim, tudo em mim se perdia: o jeito, o senso, o ritmo…

Era um vago espaço; tão largo, que o Atlântico abraçaria o perigoso Pacífico.
Faz tão pouco tempo… parece que foi ontem!
Nesse momento, eu fiz dezessete. 

As estrelas estão no mesmo lugar!
Aquele riozinho, que estava tão limpo, na minha época de escola; não existe mais.
Notei a falta de centenas de casas à beira da estrada (sumiram as pessoas nas calçadas).

Mas, os penteados de algumas… continuam os mesmos.
Tínhamos tantas ambições, então desisti! O café esfriou; é inverno.
As ruas asfaltadas! Não caio mais da bicicleta; também não me sujo de areia; o que é uma pena. 

Meus cabelos eram nos ombros… mais ou menos, assim: cacheados, cachos largos de criança, e eu tinha catorze.
Estão lisos nos ombros.
As flores estavam imóveis. Há inúmeras! Onze horas, nove horas…

Margaridas de unha!? Não sabia qual seria o nome correto e ainda não o sei. Brilhavam! Um laranja lindo. 

Era bonito o efeito nas unhas. Elas expandiam horizontes e afrouxavam sorrisos de satisfação ao vê-las enormes e amendoadas.
Uma floresta, e eu perdida…

O cabelo cresceu mais um pouco. Naturalmente mudou de cor.

Existia uma distância imensurável, uma profundidade guardada por dois lábios, e eu estava perdida; em um tango ou um bolero, talvez !

O tempo, aquele… que se diz apenas nos aniversários. (Vale ressaltar que as evidências são catastróficas).

O caminho parecia tão longo… percorri em vinte minutos o que precisaria de um dia {Há vinte anos}.

Minha alma dançava em ritmo de ventania.
É sempre bom chegar a algum lugar.
Affe! Os saltos dos sapatos.

As conversas doces de poucos barulhos que se falam juntos… eu falava sozinha… dentro da minha cabeça, pra parecer menos com as pessoas que falam sozinhas, à vista de todos.

Era tão feliz! Tanto quanto sou hoje. Nesse agora, sem “flashbacks”. Porque estou aqui. 

E a única coisa que perco hoje, são as horas.
Não as vejo mais! Nem às onze, nem às nove. 

Mas, aquelas margaridas laranjas?! Encontrei-as duas vezes: à beira da estrada, quando fazia o caminho de volta pra casa.

Everilda Menezes 

(imagem do post gerada com inteligência artificial – Adobe Firefly)

3 Comments

  1. Elizania Ramos de Oliveira Feitosa disse:

    Saudades da minha infância

  2. Shirley disse:

    Parabéns amiga, vc é top.

  3. Krystyna G disse:

    I like this weblog very much, Its a rattling nice
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