Clube do Leitor: Como surgiu a ideia de unir uma ladra e um espião como protagonistas?
Essa combinação é pouco comum e cheia de tensão. Foi inspirada em algum filme, livro ou vivência pessoal?
Camilo Farias: Oi gente, tudo bem!? Olha, meu compromisso com quem me lê sempre foi o de contar boas histórias com personagens complexos em tramas de enredos diversos como thriller, policial, suspense, sobrenatural, romance, assassinatos, drama. Gosto quando dizem que “seu livro não é um romance comum”, porque é exatamente o que eu quero! Sair do previsível. Nunca escrevi para me encaixar em fórmulas ou rótulos, assim como nunca me encaixei nas “caixinhas” que tentaram me colocar ao longo da vida.
Sempre fui apaixonado por histórias de espionagem. Tanto que comecei escrevendo sobre Moses, o Espião, em um thriller mais clássico de aventura, sedução e espionagem. Mas aí apareceu a Rose… esperta, atrevida às vezes, fofa noutras, ela tomou conta da história! O livro passou a ser sobre ela, e o Moses virou o espião que tenta acompanhá-la.
Clube do Leitor: A cidade de Paris tem um papel quase como personagem na trama. Por que escolheu esse cenário?
O que essa ambientação trouxe de especial para a história de Rose e Moses?
Camilo Farias: Como eu disse, sempre gostei de histórias de espionagem, mas quis ir além. Por isso escolhi ambientar o livro na Europa do começo dos anos 2000. O período pós guerra fria com o 11/09 super recente? Totalmente fértil para contar histórias policiais, e a França sempre foi um palco de disputas entre os serviços secretos do mundo todo. Mas o mais importante é que eu queria contar muitas histórias ao mesmo tempo, e o cenário me permitiu isso. Por exemplo: o “mentor” da Rose, Isaac, será que ele é mesmo confiável? Fiorella, sua amiga na França, vive pedindo favores, mas nunca retribui. Willelmina, uma ladra misteriosa, parece querer ajudar a Rose, mas o que ela esconde? Pois é nítido que Willelmina esconde algo (será que teremos um livro sobre ela, no futuro?). E Moses, o tal “Espião“? Vive sumindo. Ou seja, acabei por escrever várias histórias no mesmo livro.
Clube do Leitor: A relação entre Rose e Rachel é carregada de tensão e segredos. Como você construiu essa rivalidade?
Rachel, como antagonista, tem profundidade própria. Ela sempre esteve planejada assim?
Camilo Farias: Desde já aviso que não escrevo querendo redimir ou condenar personagens. Esse papel é de vocês, leitores! Rachel é uma agente fria, precisa, de poucas palavras; sagaz, dominante, afiada como uma navalha. No momento em que se passa “A Ladra e o Espião” ela é vista como uma lenda na Europa inteira e, por razões que o livro talvez revele, passa a perseguir a Rose.
Rachel protagoniza outro livro meu, “A Assassina de Berlim”, que inicia na Berlim Oriental no final de década de 1970, ela está com 19 anos, é descoberta como agente dupla e é caçada. Nossa assassina mais querida matou o único homem que amou. Esse passado a molda? De que maneira? Então, sim, Rachel sempre foi uma personagem forte e complexa. E quanto mais escrevo sobre ela, mais percebo sua força. Admiro mesmo, e espero em breve dividir com vocês todas as histórias da “Sasha”!
Clube do Leitor: Em meio à ação, o livro também trata de culpa, escolhas e redenção. Essa camada emocional sempre fez parte da ideia inicial?
Ou ela foi surgindo conforme os personagens ganharam vida?
Camilo Farias: Rose é a personagem mais forte que eu conheço. Por meio dela consigo abordar tantos temas que vão muito além da espionagem e do romance. Sempre acreditei que a franqueza, a sinceridade, são formas poderosas de coragem, e Rose as tem de sobra. Ela muda no decorrer do livro, claro, porque vivencia experiências e aventuras nem sempre relacionadas a espionagem ou geopolítica, mas também dilemas e descobertas típicas da sua idade. A camada emocional sempre está presente. Pois a ladra não tem medo de demonstrar o que sente, nem para outros personagens, muito menos para os leitores. Isso sem dúvida alguma causou bastante espanto, e me deixou muito feliz!
Tem uma cena, por exemplo, em que ela invade um apartamento e deixa uma cabeça de porco como forma de ameaça. Forte, né? Pois mesmo assim, ela continua sendo aquela garota capaz de se importar. E perceber que ela persiste em sentir, não se permite endurecer demais, me deixou muito feliz.
Clube do Leitor: Para quem ainda não leu A Ladra e o Espião, qual sentimento você espera que fique com o leitor ao virar a última página?
É mais sobre a aventura, o romance… ou algo mais profundo?
Camilo Farias: A história se passa em um período de dois anos, começa aos dezoito da Rose e vai até os seus vinte, uma fase decisiva na vida de qualquer um, né? Cheia de experiências que marcam. Onde conhecemos pessoas inesquecíveis. Ela vai terminar a história muito diferente de como começou, mais ferida, talvez? Ou mais forte, mais consciente de quem é. Só que, apesar de tudo, tem coisas nela que não mudam. Ela ainda vai adorar tomar um café no finzinho da tarde, ir a um barzinho de vez em quando, passear por um museu. Essas coisas continuarão com a nossa ladra, eu prometo! Claro que o livro tem aventura, tem romance, mas quis contar algo que fosse além. Uma história sobre escolhas, perdas, afeto… e sobre crescer sem deixar de sentir. Se isso tocar quem estiver lendo, ah gente, já valeu a pena. Espero ter conseguido!
Esse livro é maravilhoso e só tenho a dizer que o autor escreveu com maestria e soube criar personagens humanos e reais.
Da vontade de pegar a Rose e trazer para morar comigo!
Verdade, Jack! É como se a Rose fosse nossa amiga! A “ladra de corações!”
É um livro muito lindo mesmo. Virou meu livro favorito!