15/05/2024

Fortaleza de Areia

Poesia de Everilda Menezes

O Bom homem rude do gibão de couro afirma:
Não chega água no sertão, desde a criação.
O menear alheio da cabeça quente confirma:
O peregrino contingente em procissão
Estiagem prolongada simbologia os firma;
Fatal penitência, expurgando a multidão.
Enquanto, com suor a sua fronte, o rosto unta…
Cansado sertanejo laborioso afunda…

Que nuvens carregadas permita o bom Deus!
A sequidão acentuada do verão agora
Rogando-lhe seu filho, para os filhos seus
Em curtos passos calejando dor sonora
Tristeza! Despedindo-se da trilha com adeus
Nova esperança alcança geração duonora
O devastador fenômeno natural
Sempre espontâneo recorrente e terminal

Sua tortura desnutre a mulher de resguardo…
[Um roteiro formal de raciocínio certo]
Resolveria, com a coroa do Nordeste, o fardo?
Irreversível sentimento de morte perto
Vez em quando, murmura: a vida é dura e o chão árduo
Inerente ao belo céu estrelado; enviesando
Às conclusões de um diagnóstico subestimado.

Do primeiro plantio, de novembro a janeiro…
Dentro do inverno sombrio, terei meu feijão!
Da miragem inibitória, acorda ligeiro:
Santo, enfermo, ferido, sonhador de pão
No peito, o gemido bate como ferreiro,
Sertanejo matuto, rude e bravo peão
Desprovido, coitado… do direito do homem
Sua garra escava a terra e não morre de fome.

Muita coisa melhorou e que não se repita;
Esperada seca, que a todos sacrifica.
Ante um breve recuo, o instinto precipita
Edificação da barragem intensifica!
Do berro, alimentando o povo, a palma fica!
Com medo e incerteza, o caso se complica
Guardando água no poço; a planta cresce forte,
O gado não emagrece e não conhece a morte.

Fé sertaneja deve ser patenteada…
Cruz talhada de monstruosa resistência;
Devotada mesa, sob o céu limpo, arrumada!
Seu esforço define sua sobrevivência
Saga tormentosa, lágrima preparada;
Apontando a direção da sua insistência
Ao ressoar da festa, viola e cantoria,
Ressalta a força, efervescendo a alegria

Em sentimento morre da terra a lembrança
Às vezes como fragmento de palha ao vento;
O gelado silêncio da desconfiança!
Sem ter que experimentar, da terra ao relento;
Que, para seus descendentes, há esperança;
E passa na memória sem consentimento
A história de um tempo bom reescreve,
Sólida defesa do bom senso subscreve

Roda girou, o medo passou e tudo mudou
Os filhos cresceram um século e mais um dia
Nasceu conhecimento que a vida alterou
Santa tecnologia transformou o que existia;
Jovens fortes; rápida, ao futuro guiou!
Acompanhou a realidade em sua fantasia
Não é mito, conto ou lenda; é a história …
De resistência, confiança, força e glória

Por: Everilda Menezes
Ilustração:  Adobe Firefly IA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *