De um Transtorno a um Amor, de Poliana Coutinho, é um daqueles livros que tocam fundo na alma do leitor. A narrativa acompanha a trajetória de Ellie, uma jovem marcada por traumas, perdas e, sobretudo, por uma luta constante contra a ansiedade. Desde as primeiras páginas, a autora nos convida a mergulhar em um universo íntimo, dolorido e ao mesmo tempo cheio de esperança, onde os sentimentos são expostos de maneira crua e verdadeira.
O grande mérito do livro está em sua capacidade de transformar dor em palavra. Com uma escrita fluida, envolvente e sensível, Poliana dá voz a uma protagonista que sente demais e, por isso, precisa se proteger do mundo. A forma como os episódios de crise são descritos é visceral e honesta, permitindo que o leitor compreenda — ou reconheça — a intensidade do que é viver com um transtorno de ansiedade. Ellie não é apenas uma personagem, ela é o espelho de tantas pessoas que enfrentam, muitas vezes em silêncio, batalhas internas que ninguém vê.
Além de abordar com delicadeza temas como saúde mental, solidão, amizade verdadeira, julgamentos sociais e relacionamentos abusivos, o livro apresenta personagens humanos e complexos. Zoe, Ralf, Noah, Lucy… todos carregam suas contradições, e é justamente isso que os torna tão reais. A relação entre Ellie e Noah, construída aos poucos, também se destaca por fugir de estereótipos e por valorizar o respeito e a escuta mútua, mesmo em meio às dificuldades emocionais.
Ao longo da história, Poliana Coutinho evita soluções mágicas para o sofrimento da protagonista. O que encontramos aqui é um processo — às vezes doloroso, às vezes sutil — de reconstrução. O romance se entrelaça à jornada de autoconhecimento e cura de Ellie, trazendo reflexões importantes sobre autoestima, amor próprio e o desejo sincero de ser compreendida.
De um Transtorno a um Amor é, acima de tudo, um livro necessário. Um relato ficcional que serve como acolhimento para quem sofre com transtornos emocionais e como aprendizado para quem deseja compreender melhor essas dores. Uma leitura que emociona, conscientiza e inspira — sem deixar de oferecer beleza, ternura e a esperança de que o amor, seja ele de um outro ou de si mesmo, pode sim ser uma luz em meio ao caos.