Alguns livros não se lêem apenas com os olhos — eles atravessam o corpo. “Teve Tudo para Não Dar Certo” é um desses. Mais do que um relato, é um grito que ganha forma, é resistência em carne viva. Uma autobiografia que pulsa entre perdas e persistência, que toca a alma de quem ainda acredita na possibilidade de recomeçar, mesmo quando tudo parece ruir.
James Beralus, ou Maky, nos convida para dentro de sua história com uma escrita honesta e desarmada. Ele narra sua trajetória com o coração escancarado: da infância no Haiti aos desafios enfrentados como imigrante, passando pela dor da rejeição, pela injustiça da prisão, pela força da fé e pelo desejo incansável de ser reconhecido como artista e ser humano.
O ponto mais forte da obra é a autenticidade com que o autor se expõe. Ele não suaviza o sofrimento, mas também não se vitimiza. Ele nos mostra que o fundo do poço não é lugar de permanência, mas de impulso. Que a música, a fé, a memória e a esperança podem ser correntes que nos puxam de volta à superfície.
Outro destaque é a maneira como Maky honra suas origens. Seu amor pelo Haiti, mesmo diante de tantas dores, é comovente. Ele escreve com voz firme sobre o abandono de seu povo, sobre os erros dos governos e a força de quem luta diariamente para viver com dignidade. Seu texto é uma denúncia e, ao mesmo tempo, uma declaração de amor ao seu país, à sua família, e a todos que, como ele, foram deixados à margem.
A obra também brilha por sua capacidade de inspirar, especialmente jovens negros, imigrantes e leitores que enfrentam realidades duras. Não é uma leitura fácil, mas é necessária. Não é romanceada, mas é profundamente poética em sua verdade.
Maky escreve como quem tem urgência — e, ao final, somos nós que ficamos com urgência de fazer algo: escutar mais, julgar menos, acolher com mais humanidade.
“Teve Tudo para Não Dar Certo” é a prova viva de que algumas histórias merecem ser contadas — e, principalmente, ouvidas.