“Compreendendo o Real Digital” é uma leitura essencial para quem busca compreender os movimentos mais recentes da economia digital brasileira e mundial. A obra, escrita por Paulo Vitor Jordão da Gama Silva, Natalia Alves Tavares e Letícia Herculano Magalhães Vieira, articula com competência um panorama técnico, histórico e geopolítico sobre o advento das Moedas Digitais de Bancos Centrais (CBDCs), com foco especial no caso brasileiro: o Real Digital, também conhecido como DREX.
O livro se destaca por sua proposta clara: oferecer uma análise crítica sobre o framework de funcionamento das CBDCs e sua aplicabilidade prática no Brasil. Para isso, os autores adotam uma perspectiva que mescla revisão bibliográfica densa, estudos de caso internacionais, e uma leitura estratégica do contexto político-econômico nacional.
Como leitora, chama atenção o modo como o texto flui entre os termos técnicos da economia e a construção de uma linguagem compreensível mesmo para quem está dando os primeiros passos no tema. É um ponto forte da obra: traduzir complexidade sem esvaziar conteúdo.
Ao longo dos capítulos, os autores percorrem desde os primórdios das criptomoedas – como o Bitcoin e suas implicações éticas, sociais e financeiras – até os modelos regulatórios que estão sendo testados em países como China, Bahamas e Nigéria. A obra acerta ao não cair em um ufanismo tecnológico: ela reconhece os desafios, resistências e riscos da digitalização monetária, especialmente em países em desenvolvimento.
O livro também se insere em um campo ainda emergente na literatura acadêmica brasileira. Ao propor um olhar sistematizado sobre o DREX, posiciona-se como um instrumento relevante tanto para estudiosos quanto para profissionais do mercado e tomadores de decisão. Há aqui um movimento de “construção de discurso”, no sentido bourdieusiano da palavra: ocupar um espaço ainda vago no debate nacional com argumentos consistentes, dados e projeções fundamentadas.
Ao final, “Compreendendo o Real Digital” não apenas informa, mas provoca: até que ponto uma moeda centralizada digital é solução ou vigilância? A descentralização sonhada por anarquistas digitais está sendo substituída por uma nova hipercentralização estatal?
Essa pergunta ressoa e reverbera. E é justamente isso que uma boa obra deve fazer.